Empresas quebrando e bancos lucrando
Bradesco tem lucro líquido de R$ 21 bilhões em 2018 – essa foi uma das matérias do jornal Folha de S.Paulo em 30 de janeiro passado. Publicou ainda no dia 9 de fevereiro: “Dívida no cartão de crédito cresce e calote bate recorde”, ao mesmo tempo que em outros jornais saíram matérias falando sobre empresas fechando as portas, desemprego, inflação, aumentos dos juros (juros abusivos), dentre outras.
Os bancos brasileiros cobram as taxas de juros mais elevadas do planeta. Só no cartão de crédito os juros passam de 600% ao ano e no cheque especial ficam acima 300%. A desculpa da Febraban – Federação Brasileira de Bancos e da Abecs – Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços – é que “os juros são muito altos, porque a inadimplência também é grande”. Mas, afinal, a inadimplência no Brasil realmente é tão elevada assim? Uma amostragem da inadimplência do Banco Mundial dos países desenvolvidos e em desenvolvimento mostra que o nível de inadimplência aqui é de apenas 3,1%, ao passo que na Itália é de 7,8%. Logo, não somos inadimplentes, e sim roubados.
Segundo Olafur Grimsson (presidente da Islândia), “Uma economia com bancos muito fortes é sinal de que um país vai mal”. Não só pelo fato de que uma nação atrativa para investimento especulativo, onde aplicar dinheiro em cassinos travestidos é o melhor negócio, nunca conseguirá financiar o desenvolvimento da criatividade empreendedora de seu povo. Mas, principalmente, porque uma economia com bancos fortes destrói tudo à sua volta.
É exatamente isso que vem acontecendo no país há décadas. O governo foi entregando ao sistema bancário a administração e o poder do país, e hoje cinco grandes bancos ditam suas regras políticas e econômicas.
Já o renomado jornal The New York Times publicou uma manchete dizendo que “Os juros praticados no Brasil fariam um agiota americano sentir vergonha”. O periódico estadunidense aborda os ganhos das lojas de penhores no Brasil, citando as taxas do cartão de crédito em mais de 240% ao ano e 100% cobrados por empréstimos bancários. Conforme o NYT, “o crescente sucesso das lojas de penhores é o mais recente sinal de que a orgia de endividamento dos consumidores do país pode estar chegando ao seu limite”.
Realmente, atingimos nosso limite, não tem mais como tirar leite de pedra. Deu-se início ao efeito cascata. Os consumidores perderam seu poder de compra, já que seus salários foram engolidos pelos juros abusivos, megavalorização dos imóveis (aluguéis, prestações, condomínios, IPTU) e ainda pela inflação. Consequentemente, o comércio e a indústria estão estagnados, pararam de vender e de produzir, e tanto consumidores como empresas estão simplesmente nas mãos dos bancos, com seus bens, salários.
Entretanto, a maior parte das informações publicadas na mídia são manipuladas e tendenciosas. Todo ano é a mesma coisa. No período de janeiro a setembro, a alegação é de que o calote está muito elevado e por esse motivo é impossível reduzir as taxas de juros; sendo assim, os bancos exploram a população com juros abusivos de mais de 1.000% ao ano no cartão de crédito e cerca de 350% ao ano no cheque especial, elevando as dívidas a valores impagáveis. No Brasil, o sistema bancário não tem regras; cobra os juros que quer e da forma que quer. Já fomos explorados pela colonização portuguesa, sofremos com a ditadura militar e agora estamos sendo explorados pela ditadura financeira, pelo sistema bancário, com o consentimento do Governo Federal. Estamos assistindo a uma verdadeira transferência de valores da sociedade para o sistema bancário.
Informações não chegam aos consumidores – Na última semana fui entrevistado por um dos jornais mais importantes do país, que queria saber o que o consumidor deveria fazer para renegociar dívidas. Quando comecei a explicar os mecanismos e armas que o consumidor tem a seu favor para reduzir as dívidas, o entrevistador simplesmente me disse: “Então o senhor quer dizer que, se o banco não aceitar a proposta de acordo feita pelo devedor, o devedor poderá recorrer ao judiciário? A maioria dos especialistas diz que basta o consumidor procurar o banco e conversar com o gerente, e trocar uma dívida cara por uma mais barata”. Minha resposta: “Sugiro que procure outro especialista, meu caro, que lhe responda da forma que você deseja, ou melhor, da forma que a matéria foi encomendada ao seu jornal”.
Bancos cobram dívidas na Justiça – O ano de 2019 começou a todo o vapor. Os bancos estão com mais fome do que nunca, penhorando salários e entrando com ações de execução para cobrar dívidas superiores a R$ 15.000,00. O consumidor precisa se antecipar aos fatos e demonstrar seu interesse e boa-fé em pagar suas dívidas, mas sem esses juros escorchantes que minam toda a sua capacidade de pagamento.
Reza ainda nossa Constituição Federal, em seu artigo 173 § 4º: A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. E também, no artigo 192: O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade… Existe ainda o mecanismo fantástico de usar as informações do Banco Central contra o próprio banco, graças às informações divergentes de valor da dívida lançadas pelos bancos. Nossa Constituição está recheada de artigos que nos garantem muitos direitos. A questão é saber quais e quando invocá-los contra os abusos cometidos pelos sistema.
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